No início do século XX, o chifre de kudu,
espécie de antílope africano, foi usado como berrante por Robert
Baden-Powell durante o primeiro acampamento escoteiro da história.
Naquela época, o instrumento era tocado pelo fundador do movimento
escoteiro para convocar os jovens acampados para as atividades. Mais de
100 anos depois, o movimento escoteiro brasileiro se inspirou no
berrante de Baden-Powell para criar o “Kudu - Escoteiros Fazendo Eco”,
jogo online que, no clima da Rio+20, também faz um chamado aos jovens
do século XXI: por meio de redes sociais, eles devem promover ações
ecológicas em suas cidades.
— A ideia
era envolver os escoteiros de todos os estados do Brasil nas temáticas
da Rio+20 e fazê-los participar dos assuntos, mesmo não estando
fisicamente no Rio de Janeiro. O nome "Escoteiros Fazendo Eco" vem
justamente por podermos ecoar as ações pelo país e pela questão
ecológica do tema — explica Carla Neves, diretora de Relações
Institucionais da União dos Escoteiros do Brasil (UEB).
Lançado
em abril, o game é dividido em 12 fases. Em cada uma, o jogador deve
realizar uma tarefa. As primeiras são bem simples, mas aos poucos, a
complexidade vai aumentando. As missões vão desde mudar ações no
dia-a-dia em casa, como economizar água no banho, até promover mutirões
de limpeza em pontos da cidade.
Até
agora, a organização contabiliza cerca de 700 participantes cadastrados.
Um número que ainda pode crescer, já que existem quase 1200 grupos
escoteiros no país. Para Carla, o balanço tem sido positivo.
—
Estamos muito contentes com a adesão e realização de ações pelos
escoteiros de várias partes do Brasil. É gratificante ver jovens e
adultos refletindo sobre suas condutas e como elas afetam o
meio-ambiente e sua comunidade. Melhor ainda é ver a mudança acontecendo
e os resultados surgindo junto à comunidade — analisa Carla.
O
estudante de Engenharia Civil Luís Gustavo Ferreira, de 23 anos,
começou a jogar em abril deste ano, logo quando o jogo foi lançado. O
jovem, integrante do grupo escoteiro Luz e Trabalho, de Valparaíso de
Goiás (GO), está na quinta tarefa e criou um blog para divulgar os
resultados. Para ele, o jogo tem feito diferença no seu dia-a-dia.
—
Depois que comecei a jogar, comecei a observar mais as coisas que faço
que podem agredir o meio ambiente. Um exemplo, é que reduzi o uso do
carro. Além de economizar na gasolina, reduzi a minha pegada de carbono,
a medida de quanto CO² produzimos. Se todos fizessem um mínimo, se
tornaria um muito — diz Luís.
Até
agora, o projeto mais ambicioso do jovem é transformar um terreno usado
como lixão em área de lazer. Luís já fotografou o local e anunciou, no
blog, que vai procurar parcerias de arquitetos, topógrafos, moradores e
prefeitura para concretizar sua ideia.
Escoteira de Fortaleza (CE), a advogada
Otília Barros, de 28 anos, é uma das jogadoras mais ativas. Ela já
cumpriu sete tarefas e se orgulha de ter mobilizado seus amigos e a
população em torno de uma das praças da cidade, culminando na
revitalização do local.
— Foi a
tarefa mais divertida. Mandei e-mails a todos os meus amigos para
cuidarmos da praça do bairro de Edson Queiroz. A comunidade já havia
pedido várias vezes o cuidado dessa praça para órgãos públicos, sem
surtir efeito. No dia, começamos a ação com pouco mais de cinco
escoteiros. Aos poucos, a comunidade do local começou a se mobilizar e
em poucas horas já tínhamos 25 pessoas trabalhando na praça — conta
Otília.
O trabalho surtiu efeito. De
acordo com a escoteira, o mutirão acabou dando visibilidade a um
problema antigo e chamou a atenção da prefeitura da Fortaleza, que
providenciou os reparos de que a praça precisava, três dias depois da
ação.
O reconhecimento também veio dos
moradores do local, pelas redes sociais. “Esse dia é uma prova
fidedigna que a união faz a força. Registro que ficará marcado para os
moradores do Conjunto Cohbem e o Grupo de Escoteiros”, escreveu o
morador Tadeu Reis, no Facebook, onde Otília compartilha os resultados
das tarefas. “Aquela pracinha fez parte da minha infância e com a
iniciativa de vocês pudemos ajeitá-la”, completou Josi Ladislau, outro
usuário da rede.
O Kudu ainda não tem
data para terminar. Os jogadores mais ativos, como Otília e Gustavo, que
se cadastraram assim que o jogo foi lançado, no início de abril, já
estão na oitava tarefa, mas a plataforma continua a receber novos
participantes. Segundo a UEB, a previsão é que as ações se intensifiquem
durante o mês de junho.
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